Blog do Eduardo Silva: MOVIMENTO ESTUDANTIL EM CAMAQUÃ

AJUDEM A RELEMBRAR ESTA HISTÓRIA...

Em 1985 foi comemorado o Ano Internacional da Juventude. Em Camaquã, principalmente no Colégio das Irmãs, havia um trabalho muito interessante que proporcionou a juventude despertar para a abertura política na época. Grupos como o JACRI (Jovens Amigos de Cristo), teatro, jograis, apresentações e outras situações que surgiam de forma muito espontânea. Mesmo sendo movimentos e ações ligadas a Igreja eles se caracterizavam por uma atuação política (não partidária) muito forte. A política nacional era pauta permanente. Pensávamos realmente que faríamos a diferença. Estávamos saindo da ditadura militar, vínhamos de um movimento forte exigindo eleições diretas, enfim, eram tempos de efervescência política muito forte.

Foi nesse período, penso que em 1984 (não tenho certeza), que no desfile de 7 de Setembro ousamos não marchar e sim caminhar com cartazes, faixas e outras formas de manifestação de nossas ideias. Foi uma afronta! Um desrespeito a Pátria! Lembro como se fosse hoje as pessoas nos olhando com caras assustadas e de boca aberta com nossa ousadia e desrespeito.

Em 1985, um grupo de estudantes participa de quatro encontros de formação política em Porto Alegre no Instituto da Pastoral da Juventude. Tive a grande oportunidade de ser um deles, algo que realmente mudou minha vida. Lá entendi como as coisas funcionam e a serviço de quem eu estava nesse mundo, foi então que decidi tentar construir meu caminho e comecei a militar no PT.

Neste mesmo ano, é realizada uma caminhada com o intuito de promover o Ano Internacional da Juventude. Saímos de um Encontro no auditório das Irmãs e seguimos adiante, acompanhando uma Kombi com duas cornetas de som em cima dela. Íamos cantando, manifestando o que pensávamos até que, não me lembro do motivo, parávamos em determinados momentos e fazíamos orações.

Lembro-me que esta última parte revoltou os jovens organizadores da caminhada, mas como éramos diretamente “influenciados” pelas irmãs não tínhamos muito que fazer. Nada contra as orações, mas não queríamos ser caracterizados como uma procissão.

Em 1986, fui estudar no Estadual, onde reativamos o Grêmio Estudantil e promovemos um grande momento que culminou com as eleições para a Entidade. Os candidatos à presidente eram Eu (Eduardo Silva) e o Dael Prestes.

Lembro que perdi a eleição pro por 16 votos.

Já em 1987 o Movimento Estudantil era tão forte, que houve até debate entre os candidatos à presidente. Disputaram a eleição eu e o Alex Fabiano (que era o vice do Dael). Nessa saí vencedor por mais de 200 votos.

Mas neste ano, o Governador era Pedro Simon (PMDB), o Secretário de Educação era Bernardo de Souza e a Delegada de Educação era a Liliam Sampaio. Neste ano aconteceu uma das mais incríveis greves do magistério já realizada. Foram 96 dias de paralização. Nós do Grêmio Estudantil apoiamos o movimento. Posso dizer que neste período estávamos no auge das nossas consciências, tanto que nos rebelamos com a orientação do Governador, (que foi acatada Delegada de Educação) de pressionar e obrigar os professores contratados a entrar em sala de aula, numa clara tentativa de esvaziar a Greve.

Eu estava na sala dos professores na Escola Estadual à noite debatendo sobre o assunto, até que uma professora comentou que a nossa solução (dos professores) seria se os estudantes não entrassem na sala de aula. Pronto! Foi a deixa que precisávamos para promover um movimento espetacular.

Mesmo em Greve já nuns quantos dias, chamamos uma reunião com lideranças e debatemos a questão onde decidimos o seguinte: Não adianta termos aulas parciais agora (com os contratados) e com os concursados mais tarde. Ou temos aula total agora (e para isso o Governo teria que entrar em acordo com o CEPERS) ou só depois (neste caso, não poderiam pressionar os contratados a voltarem a lecionar).

Éramos basicamente do noturno do Estadual e com isso chamamos uma manifestação e uma caminhada à noite, até a casa da delegada de educação. Fizemos isso, porque a Delegacia não funcionava à noite. Neste pont

o quero ponderar que hoje avalio que ir a residência pessoal da Sra. Liliam, não foi a atitude mais correta, mas credito isso a inabilidade de lidar com o algo novo, que era a abertura política. Enfim, ao chegarmos lá (cerca de 300 estudantes), uma Comissão (se não me engano a Rejane, o Rerinton, o Sandro e a Berenice) recebida por ela, onde fomos duramente criticados e questionados pelo fato de termos ido a sua residência particular. Nesse momento argumentamos que era porque a Delegacia de Educação não funcionava à noite, foi aí então que ela disse que nos receberia alguns dias depois (2 ou 3 dias) na DE, onde ela chamaria todos para um expediente de trabalho.

Assim o fizemos, só que não fomos sozinhos, nos organizamos com os estudantes do PREMEM, elaboramos um abaixo-assinado e promovemos nova caminhada. Chegando lá a conversa de mais de uma hora não avançou e não chegamos a nenhum entendimento comum. Estávamos com os ânimos exaltados e havia com certeza uma inexperiência de ambas as partes em lidar com esta questão.

Bueno, estas são lembranças e sentimentos de algo que aconteceu na década de 80 e que não tem pretensão nenhuma de ser a mais pura expressão da verdade. Com certeza posso ter me enganado de datas, situações e muito mais. Evitei ao máximo citar outros nomes, pois me lembro de várias pessoas que participaram, só que não recordo os nomes, enfim, espero que esse texto sirva como uma base para tentarmos recuperar a memória daquele momento tão importante para o Movimento Estudantil em Camaquã. Espero sinceramente, que outras pessoas corrijam e aprimorem estas informações.

Grande Abraço a tod@s!

Eduardo Silva

MAIS ALGUMAS FOTOS:

DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

Bandeira do GELS - Grêmio Estudantil Liberato Salzano (Colégio das Irmãs)