quarta-feira, 19 de outubro de 2011

RBS tenta transformar mobilização por mudanças globais em “marcha contra corrupção”


Desde ontem, 13 de outubro, a RBS parece empenhada em transformar a mobilização mundial convocada pelos jovens indignados espanhóis para o dia 15 de outubro na “marcha contra a corrupção convocada pela OAB”. É uma deformação grosseira, resultante de desinformação ou má-fé.

A manchete do jornal Zero Hora, em sua edição de quinta, afirmou: “Internet arrasta às ruas do país um basta contra a corrupção”. Segundo o jornal do grupo RBS, protestos em todo o Brasil estariam mostrando a força da mobilização via redes sociais e uma nova rodada de manifestações estaria prevista para sábado em Porto Alegre. A matéria fala de um ato que estaria sendo convocado pela OAB e outras entidades que partiria do Monumento do Expedicionário em caminhada até a Praça da Matriz, onde haveria “uma vigília em frente ao Piratini”.

Curiosamente, é o mesmo trajeto, mesmo horário e mesmo local de concentração da mobilização mundial de ocupação de praças, convocada pelos espanhóis em defesa de uma Democracia Real e contra o modelo econômico das grandes corporações e do capital financeiro que mergulhou o mundo em uma gravíssima crise. Neste momento, Bruxelas está recebendo milhares de jovens de toda a Europa para participar do ato deste sábado. A agenda de mobilização é a seguinte, relata o jornalista argentino Eduardo Febbro, correspondente do Página/12 e da Carta Maior em Paris: contra o sistema financeiro, as oligarquias que conservam o poder em caixas fortes, a impunidade, a democracia sequestrada por um punhado de privilegiados e os grandes grupos de comunicação que pintam a realidade segundo a multinacional a qual pertencem.

Essa é também a agenda da mobilização do acampamento programado para a Praça da Matriz neste sábado. O que está sendo questionado é o modelo econômico neoliberal e seus braços políticos e midiáticos, o modelo que, nas últimas décadas, defendeu o Estado mínimo, as privatizações, a desregulamentação da economia e, em especial, do setor financeiro, a supressão de direitos sociais e trabalhistas, a eliminação dos espaços de participação popular na vida democrática, a concentração de poder econômico, político e midiático.

Na manhã deste sábado, a rádio Gaúcha, outro veículo do grupo RBS, promoveu um debate sobre o “ato contra a corrupção” que estaria sendo convocado neste sábado “pela OAB e outras entidades” – a mesma fórmula sempre. Nem uma palavra sobre as reais motivações da mobilização mundial dos acampados de Madri, de Barcelona, de Nova York, de Bruxelas, que estão se rebelando contra o modelo econômico que a RBS defende há décadas em seus espaços editoriais. Além de não divulgar esse sentido da mobilização, o grupo midiático tenta agora sequestrá-lo e transformá-lo em um braço do movimento Cansei.

900 cidades do mundo (entre elas, Porto Alegre), de 93 países, responderam ao chamado feito pelos jovens espanhóis. O manifesto elaborado para este 15 de outubro, traduzido em 18 idiomas, incluindo o hebraico e o japonês está acessível na página http://15october.net/pt e destaca que “os poderes estabelecidos atuam em benefício de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria, sem se importar com os custos humanos ou ecológicos a pagar. É preciso por um fim a esta intolerável situação”.

Segundo Jon Aguirre Such, porta-voz de Democracia Real Já, da Espanha, movimento autor da convocação global, as manifestações mundiais e a concentração emblemática que está ocorrendo em Bruxelas, são feitas contra quatro poderes: o financeiro, o político, o militar e o midiático.

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